Empty spaces between ladders
A exposição do artista plástico Marco Fedele di Catrano tem curadoria de Sofia Marçal.

O abre pela primeira vez as suas portas a uma intervenção global que pretende dialogar com o museu na sua totalidade e durante um período de quatro meses e meio. Empty spaces between ladders (Espaços vazios entre escadas) é a primeira exposição individual do artista plástico italiano Marco Fedele di Catrano, atualmente a viver em Lisboa, num museu português, resultante da sua residência artística no museu.
Marco Fedele di Catrano, ao confrontar-se com diferentes espaços do museu estabelece um fio contínuo, dinâmico e processual entre o interior e o exterior, entre a cidade e o museu. A ideia de habitar o Museu é o Leitmotiv da exposição.
Além de fotografias, vídeos e pinturas a exposição é composta por diversos materiais recolhidos de edifícios da cidade de Lisboa antes de serem demolidos que são reutilizados e contextualizados na arquitetura do edifício numa instalação site-specific.
Sinopse
A visibilidade do invisível
O Museu Nacional de ᾱó Natural e da Ciência apresenta a exposição Empty spaces between ladders do artista visual italiano Marco Fedele di Catrano, é a sua primeira exposição individual num museu português e é o resultado da sua residência artística no museu, intervenção global que pretende dialogar com o museu na sua totalidade.
Marco Fedele di Catrano, ao confrontar-se com diferentes espaços do museu estabelece um fio contínuo, dinâmico e processual entre o interior e o exterior, entre a cidade e o museu. A ideia é habitar o Museu, “assim, uma imensa casa cósmica existe potencialmente em todo sonho de casa. De seu centro irradiam-se os ventos e as gaivotas saem pelas janelas. Uma casa tão dinâmica permite ao poeta habitar o universo. Ou, noutras palavras, o universo vem habitar sua casa.”[1] Habitar o museu, habitar o espaço, numa consciência forte das marcas, dos materiais, da consciência social e da própria materialidade.
As obras aqui apresentada são fragmentos de um universo muito maior, deixaram-se aprisionar e transitaram para o museu, numa trajetória singular e efémera. A dimensão é muito importante nos trabalhos artísticos de Marco Fedele di Catrano, onde há uma nítida dilatação do espaço e do tempo. Já não é tanto representar essa realidade exterior, essa autoridade do próprio artista, mas uma nova realidade socio-espacial.
No áٰ, estão duas esculturas intituladas Rising Reversed, feitas a partir de vinil transparente contendo água inserida numa armação de madeira. Estrategicamente colocadas a dialogarem entre si e com o próprio edifício, com o átrio que as alberga. Remetem-nos para um ambiente fluido e ameaçado que pode colapsar a qualquer momento. “O espaço é resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos, naturais e artificiais.”[2] Marco trabalha mais as metodologias de síntese do que metodologias exclusivas, o seu trabalho reflete um longo caminho na representação de coisas que existem ou que possam existir.
Também se apresenta o vídeo forex e como nos diz o artista, “forex é um mercado financeiro descentralizado destinado a transações de câmbio, sendo o maior mercado do mundo.” Este vídeo foi realizado na Suíça em 2014, num edifício que foi destruído para dar lugar a novos edifícios, o poder da gentrificação, simbolicamente 17 minutos de transação económica, desenhados a lápis pelo artista. Outra escultura instalada, é a maquete da Resign Reversed.
No corredor da mineralogia, estão instados cinco trabalhos em técnica mista da série Untitled (#1, #2, #3, #4, #6), série em construção que estabelece um diálogo com a repetição múltipla de uma narrativa em sequência, onde cada registo corresponde a uma ação do artista, onde a ordem obedece a um princípio estético. “Obedecer, então, não é mais sujeitar-se a uma imposição que obriga a suportar o insuportável, mas conformar-se docemente a essa ordem que põe cada um em seu lugar, é situar-se na vertical de uma harmonia que traz felicidade.”[3] Estes trabalhos são feitos a partir de sacos de supermercado, colocadas abertos do avesso para se poder ver o material fibroso das quais foram feitos, uma trama, urdidura industrial. Dois momentos em paralelo o do fabrico dos sacos e o da execução da peça artística, assim como o valor residual destes sacos comparado com o seu fabrico manual. O material é industrial, mas a ensamblagem é humana. A produção industrial em oposição à produção humana. A visibilidade do invisível.
No corredor da zoologia encontra-se a instalação Shift, composta por diversas portas recolhidas de edifícios da cidade de Lisboa antes de serem demolidos, reutilizadas e contextualizados na arquitetura do edifício numa instalação site-specific. Noutros lugares as portas desempenharam a função de guardar, de fechar, aqui libertaram-se desse papel e como que voaram para o museu para serem guardiães dos seus visitantes. A obliquidade da instalação Shift, a alteração do plano espacial, da sua forma, do seu tamanho, agora as portas já não têm uma medida standerisada, cria uma dinâmica de mudança. As portas perderam essa função pragmática de fechar, de recatar, agora são um caminho que indica a disfuncionalidade do objeto. Marco Fedele di Catrano joga com o inesperado de uma perceção invisível de desconstrução do museu.
A exposição Empty spaces between ladders procura cruzar dois conceitos de instalação, o artístico das obras e o da instalação das próprias peças, tendo como dominador comum o espaço. A forma como as peças estão instaladas implica diferentes leituras por parte dos visitantes do museu. Nessa circunstância foi possível fazer o cruzamento entre determinados conceitos estéticos e processuais contemporâneos, é impossível pensar a arte sem pensar nas conceções filosóficas do seu tempo que a justifica em termos não sós visuais, mas também concetuais.
Na exposição é valorizado o papel simbólico da representação como forma de Arte na sua dimensão de crítica social. “Com a ação por impulso profundamente incutida na conduta cotidiana pelos poderes supremos do mercado de consumo, seguir um desejo é como caminhar constrangido, de modo desastrado e desconfortável, na direção do compromisso amoroso.”[4] Empty spaces between ladders valoriza o compromisso entre Marco Fedele di Catrano e o público, sendo possível fazer o cruzamento entre a Arte e a Ciência, nos espaços vazios entre escadas, entre o passado e o presente, num mundo das representações com o intuito de dar vida a estes espaços do museu em termos de percecionar a própria razão do objeto, na estrégica da sua escolha, do seu afastamento da dimensão visual e social.
[1] Gaston Bachelard, in: A Poética do Espaço, p.230-231.
[2] Milton Santos, in: Metamorfoses do espaço habitado – Fundamentos teórico e metodológico da geografia, p.25.
[3]Frédéric Gros, in: Desobedecer, p.35.
[4] Zygmunt Bauman, in: Danos Colaterais – Desigualdades sociais numa era global,p.22.
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