Ǵ

Passar para o conteúdo principal
Outros

Ana Saramago Matos: “A luta das mulheres tem que ser a luta dos homens”

Licenciou-se em Engenharia Informática no Instituto Superior Técnico, mas em 2003 abriu uma galeria e abraçou o mundo da arte. Neta da gravurista Ilda Reis e do escritor José Saramago, Ana Saramago Matos afirma que esteve sempre rodeada de arte. No Dia Internacional da Mulher damos a conhecer este extraordinário percurso com um manifesto em defesa da igualdade entre homens e mulheres.

Ana Saramago Matos

“Por muito estranho ou pouco normal que possa parecer uma engenheira informática abrir uma galeria de arte, na verdade, naquilo que eu considero aquilo que foi o meu percurso, esta transição foi bastante natural”, afirmou Ana Saramago Matos. Licenciou-se em 1995, no Instituto Superior Técnico, em Engenharia Informática, especificamente na área de Inteligência Artificial (IA), numa altura em que a IA já estava nas Universidades, a desenvolver o seu percurso numa área mais de investigação e não tanto numa área a afetar o quotidiano da sociedade. Durante algum tempo trabalhou em várias empresas, dentro da área, mas sempre sentiu vontade de ter algo em nome próprio. E a verdade é que toda a sua vida foi rodeada de arte. É assim que a 4 de julho de 2003 inaugura a Galeria das Salgadeiras.

Nas suas palavras, a avó Ilda Reis, foi a pessoa que mais a inspirou a chegar à arte e, sobretudo, à arte contemporânea. “A minha avó fazia gravura […] e a verdade é que quando a minha avó começa a fazer gravura […] não existiam tantas artistas mulheres quanto isso e, portanto, essa afirmação foi demorada, foi lenta, mas foi feita passo a passo, (…) acompanhei-a muito também na prática da gravura […] mas também do lado da disciplina e do quão importante é um artista trabalhar de forma regular”, salientou Ana Saramago Matos.

Mas o seu legado não fica por aqui. O avô, José Saramago, também deu o seu contributo, na medida em que lhe “deu mundo” e a fez compreender o privilégio das diferentes culturas. “O mundo é um lugar muito, muito grande e nós devemo-nos posicionar sempre numa perspetiva de ir ao encontro dessas diferenças e não acharmos, ou termos medo, ou recusarmos ou termos uma certa estranheza daquilo que é diferente […] e acho que é muito dessa comunhão […] e, no fundo, uma certa disponibilidade e generosidade […] de entendermos o outro que vamos compreender melhor o mundo e vamos ser, na minha perspetiva, pelo menos mais felizes porque também tornamos os outros mais humanos.”

Ana Saramago Matos aprendeu a andar na cadeia, com a força e o apoio de todas as mulheres que ali estavam. Não se recorda desses tempos, mas as memórias construídas ao longo dos anos, pelo que lhe foram contando, moldaram a mulher que é hoje. “Eu fui para Caxias quando tinha 15 meses e estive com a minha mãe entre os 15 e os 18 meses, […] antes do 25 de abril […]. De facto, aquele momento em que eu aprendo a andar, em que eu me estou a levantar, há uma cela com não sei quantas mulheres que estão ali. […]. De facto, não tendo memória, tenho consciência do quão importante e do quão representou algures na minha existência ter aprendido a andar numa cadeia.”

Liberdade é, por isso, uma palavra muito valorizada pela galerista, que não tem dúvidas em afirmar que a arte é uma forma de expressão libertadora, no entanto, também deixa o alerta: “é um território que ainda é livre, mas que também depende muito de nós mantermos essa liberdade”, reforçou.

Sobre a evolução do papel da mulher na sociedade e, particularmente, no mundo da arte, não tem dúvidas em reiterar que é um dos campos onde existe, felizmente, equidade e equilíbrio. “Há muitas mulheres galeristas reconhecidas, como a Arlete Alves da Silva, da Galeria 111, a Vera Cortês, que tem a galeria com o seu próprio nome, a Cristina Guerra, que também é uma referência, e tem uma galeria com o seu próprio nome. Portanto, felizmente, temos muitos bons exemplos de mulheres galeristas, afirmativas e que desenvolveram o seu caminho.” Ana Saramago Matos realça que, em 22 anos a trabalhar neste campo, nunca sentiu qualquer tipo de discriminação por ser mulher. No campo da engenharia, recuando 22 anos, já foi diferente. “Exigia, se calhar, uma maneira de ser e de estar, que na verdade não se coaduna nada com a minha maneira de ser e de estar, razão pela qual, se calhar, ao fim de tão pouco tempo […] acabasse também por sair dessa área.”

No entanto, não tem dúvidas de que, ao longo do tempo, as mulheres conquistaram inúmeras vitórias, mas que ainda há muito para fazer até se conseguir uma sociedade mais justa. “Considero-me feminista na medida em que homens e mulheres têm que ser iguais. Como qualquer raça, como qualquer religião, como qualquer classe social, portanto que as pessoas são todas iguais […]. A luta das mulheres tem que ser a luta dos homens. Porque se não vai ser sempre uma coisa que é discriminatória. […] A luta tem que ser transversal, porque na verdade é uma luta pelos direitos e deveres humanos”, concluiu.

ULISBOA NEWS

Para que esteja sempre a par das atividades da ULisboa, nós levamos as notícias mais relevantes até ao seu email. Subscreva! 

SUBSCREVA

Últimas notícias

Finalistas da competição 3 Minutos de Tese - Edição de 2025
Inov@U - Incentivos ao desenvolvimento de competências pedagógicas
Está disponível a programação do FATAL 2025